Aprendendo a crescer
- Marcelo Maheshwara
- 29 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
Ampliar a consciência não vem por osmose, mas precisa de condições para florescer.
O despertar de grandes mestres espirituais e iniciadores de práticas religiosas que deixaram um legado de amor a humanidade, está intimamente relacionado a experiência de vida que, muitas vezes não é um mar de rosas.
Fico vendo professores e mestres com uma imagem e textos clean intocáveis, moralistas, com suas fotos editadas com os mínimos detalhes atraindo seguidores mas vendendo um produto que não é tão palpável assim.
Muitos acreditam no ser iluminado intocado, que não ousa em falar ou se dirigir a vida mundana. Experimento por exemplo, homens que já me falaram que quando toco no assunto sobre machismo,estou focado na minha visão que separar homens e mulheres.
Acredito que todos que encarnam aqui nesta terra, também estão sujeitos a experimentar as fraquezas, dores e amores de estar encarnado.
Na história de Siddartha Gautama por exemplo, ele era um príncipe que vivia em um castelo cheio de riqueza, comida, e não conhecia velhice, a pobreza e a morte.
Um dia recebeu um chamado de sair do seu castelo para ver o mundo a sua volta, e foi aí que conheceu a morte, a doença e a velhice. Neste momento poderia passar a vida na famosa “maya“ (ilusão), em seu castelo, mas não, questionou o sistema que vivia e foi encarar o mundo, experimentar processos profundos, austeridades, para aí sim, encontrar o estado Buddhico da consciência.
Digo isso pois na parábola do caminho do meio, Siddharta estava meditando durante 6 anos em um jejum com Saddhus, homens retirados, a beira de um rio quando passou um pequeno barco com um músico e seu pequeno aprendiz.
Siddharta mesmo meditando, escutou a conversa em que o músico que é um sábio na cultura falava com o pupilo: (se esticar a corda demais, ela irá arrebentar, se deixa-la, frouxa, ela não irá tocar).
Esse conhecimento simples mostrou que o equilíbrio era o caminho para alcançar, experimentar e encontrar a libertação.
Isso após questionamentos, austeridades, erros e acertos na vida. Foi necessário sair da zona de conforto.
Mas veja que essa saída da zona de conforto é escolha, não condição estrutural. Somente se pudermos atender necessidades básicas de seres humanos, podemos cultivar melhores escolhas para uma sociedade.
Também ainda pelo Budhismo, Ashoka era um imperador da Dinastia Mauria na India que reinou entre 273 e 232 a.C. Frequentemente citado como um dos maiores imperadores da India.
Seu império estendia-se do atual Paquistão, Afeganistão e partes do Irã, a oeste, até Bengala.
Ele converteu-se ao budismo, abandonando a tradição védica predominante, depois de testemunhar os massacres da guerra de Calinga, que ele mesmo havia iniciado devido a seu desejo de conquista.
Dedicou-se posteriormente à propagação do budismo na Ásia e estabeleceu monumentos marcando diversos lugares significativos na vida de Gautama Buda.
Jesus, que após 40 dias no deserto começou a fazer milagres e foi perseguido pelo exército Romano até ser crucificado.
Podemos falar de Krishna que na obra Bhagavad Gita que fala sobre vinte valores (Yogas) essenciais a quem pretende evoluir no plano espiritual, na vida, com o mundo e os com os outros, No capítulo XIII, Krishna, está no meio de uma batalha, uma guerra, mas durante a história assume o papel de mestre, fala a Arjuna, seu discípulo, quais os valores fundamentais, ou qualificações da mente, a seguir para a obtenção do autoconhecimento.
Em todos os casos, reflete-se vidas encarnadas e humanas experimentando escolhas, atitudes benevolentes para com o próximo diante de guerras, violências ou questões humanas que experimentamos nos dias de hoje.
Por isso, acredito que a rota que o buscador deve seguir, precisa passar pela compreensão de si sem estar separado do todo.
Em todos estes casos, a vida social, políticas e movimentos de resistência a lutas fazem parte para uma transcendência para algo maior. As realizações espirituais estão intimamente ligadas as mazelas da vida, as escolhas do seu aqui e agora.
A vida é um constante aprendizado e nenhum destes nomes citados anteriormente se omitiram diante dos problemas, das violências mundanas, das doenças alheias, pelo contrário, ensinaram a verdadeira compaixão e amor ao próximo, e apenas isso trás a libertação.
Importante frisar que nenhum deles escreveu textos, mas através da prática empírica venceram suas batalhas, suas dores, mortes para algo mais grandioso do que se submeter a um sistema ou a uma ignorância social.
Todos tinham no amor ao próximo sua convicção espiritual, sua certeza divina que, mesmo com o mundo dual, o iluminado busca outros caminhos para a paz, compaixão e a abundância coletiva.
Ser verdadeiro, criar atos, palavras e ações puras e "divinas" é uma escolha.
Todos têm em comum a essência do eterno aprendiz da vida, do dar as mãos para quem quer que seja e na situação que estiver.
Isso mostra que o mundo é dinâmico, não um modelo fechado e padronizado como muitos moralistas acreditam.
Por outro lado, só aqueles que fogem da realidade são iludidos.
Aqueles que não se esforçam na busca do caminho e no aprendizado da vida porque seu espírito está possuído de uma natureza estática e sempre estacionada em algum lugar pensando que já possuiu ou adquiriu conhecimento suficiente e nada mais precisam fazer para si e para o outro.
Eu já acredito que o legado espiritual esta no fato de sua força estar determinada em ver o aqui e agora. Em experimentar o mundo e fazer escolhas que se alinhem aos cuidados humanos, que ai sim, descritos em textos e parábolas.
Isso de forma alguma torna o caminho mais fácil, pelo contrário, trás o olhar mais atento em buscar o que sente, como sente e como se comunica na verdade do momento que ela acontece.
Essa complexidade de dosar os cuidados envolvidos nas nossas ações e escolhas e as dos outros.
Por outro lado, vejo a vulnerabilidade de muitos que buscam apenas em textos, grupos ou mestres com o velho e batido arquétipo do “sábio” ou iluminado, para atender os anseios internos.
Precisamos empoderar as pessoas de ter uma visão mais ampla sobre suas escolhas que devem se tornar cuidados consigo.
Um Buda vê a si próprio como um aprendiz e não como um iluminado.
Perde o medo de sair da zona de conforto ou do estereótipo Iluminado, clean e perfeito.
Ele não tem nenhuma ideia fixa sobre algo e muito menos apego a imagem que constroem dele.
Se um ignorante acreditar firmemente que é possuidor de conhecimentos, claramente estará atado nas correntes da própria sabedoria, das próprias teorias que deverá sustentar até sua morte.
Quando despertamos para a realidade da vida real da experiência de que só se aprende o caminho caminhando, começamos a nos responsabilizar pelas nossas escolhas e nossa "iluminação", seja ela qual for.
Que todos os seres sejam felizes
Namaskar!
M.Maheshwara
https://gfycat.com/plumpunitedhawaiianmonkseal?fbclid=IwAR0CHdTnn9HMEGhAHxR3f0OexrmcJDhHRA9oY_zrL2SJSc5gmVd8Uvb02Kk
Comments